Descrição é a representação verbal de um objeto (lugar, situação ou coisa), em que se procura assinalar os traços mais particulares ou individualizantes do que se descreve.
A descrição pode ser, mais do que uma "fotografia", uma interpretação daquilo que se descreve (desde que não se trate de uma descrição técnica). O que se espera de uma descrição não é tanto a riqueza de detalhes (embora isto possa ser um elemento importante), mas sim a capacidade de observação aguda que deve revelar aquele que a realiza. O que se quer é a imagem, não uma cópia automática da realidade.
Na descrição literária, portanto, é muito importante a questão do ponto de vista (físico: a ordem; mental: se a descrição é subjetiva e objetiva ou impressionista e expressionista).
Descrições de tipos
Deve-se distinguir nessas descrições o tipo e a personagem (que não são a mesma coisa). O autor pode aí limitar-se aos aspectos físicos ou atingir um retrato psicológico.
Na literatura brasileira, autores como Manuel Antônio de Almeida (com o seu Leonardo Pataca), Aluísio Azevedo e Raul Pompéia (com o seu famoso Aristarco), por exemplo, foram grandes criadores de tipos.
Algumas personagens criadas pelos escritores são tão verdadeiras e correspondem tão autenticamente à psicologia e à vida dos povos que se transformam em verdadeiros tipos. É o caso, por exemplo, de algumas personagens de Machado de Assis (Capitu, por exemplo).
Descrição de paisagem
A descrição de paisagem deve procurar captar a "verdade da natureza". Um dos erros em que incorrem muitas vezes os escritores é o de cair na fastidiosa enumeração de aspectos físicos da natureza, sem procurar interpretá-la. Os autores românticos, que realizaram a valorização da paisagem e da natureza como refúgio do homem, dedicaram páginas de grande valor literário às descrições de paisagens. Veja-se na literatura brasileira, por exemplo, as descrições de José de Alencar (na maioria de seus romances). Já Euclides da Cunha, com seu extraordinário talento de narrador, deu força e vigor às descrições da terra brasileira, transformando-se em legítimo modelo de descrição viva.
Abaixo, temos alguns magníficos exemplos de descrições de tipos e cenários, de autoria de Balzac:
"Essa mulher, envelhecida antes do tempo, seria um quadro curioso para um poeta que passasse pelo bulevar. Ao vê-la sentada à fraca sombra de uma acácia, ao meio-dia, qualquer pessoa poderia ler uma das mil coisas estampadas naquele rosto pálido e frio, apesar dos raios quentes do sol. Seu rosto expressivo representava qualquer coisa de mais grave que uma vida em declínio, ou de mais profundo que uma alma curvada ao peso da experiência. Era uma dessas fisionomias que, entre mil desdenhadas por serem desprovidas de caráter, nos atraem durante um momento, nos fazem pensar; como, entre os inúmeros quadros dum museu, somos fortemente impressionados, seja pela cabeça sublime em que Murillo pintou a dor materna, ou seja pelo rosto de Beatriz Cenci onde Guido Reni soube fixar a mais tocante inocência no fundo do mais espantoso crime, ou seja ainda pela sombria face de Filipe II onde Velásquez imprimiu para sempre o majestoso terror que deve inspirar a realeza. Certas figuras humanas são imagens despóticas que nos falam, que nos interrogam, que respondem a nossos pensamentos secretos, e constituem até poemas inteiros. O rosto impassível da Sra. d’Aiglemont era uma dessas poesias terríveis, uma dessas faces espalhadas aos milhares na Divina Comédia de Dante Alighieri." (A Mulher de Trinta Anos)

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